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setembro 21, 2016

Tragédias Silenciosas

Já há alguns meses, o CCM, minha clinica, é vizinha, parede com
parede, de uma construção de um prédio residencial. Desde o início
procuramos nos aproximar para que nossa convivência, sabemos que
longa, pudesse ser harmoniosa e colaborativa.
E assim temos vivido, em meio as horas de descanso ao som do funk e
das máquinas escavadeiras no horário e trabalho.
Ontem, estava em minha sala, atendendo um garotinho que adora olhar
pela nossa janela, a construção que sobe lentamente. Ontem não
olhamos… De repente ouço um estrondo enorme e muitos gritos… Não
os comuns de risadas e camaradagem, mas gritos de horror.
Não me levanto, com medo do garoto se animar e ir até a janela. Embora
não pudesse adivinhar o tamanho da tragédia, imaginei que algum
acidente havia acontecido.
Meia hora depois, ao abrir minha garagem para sair para outro
atendimento, fico paralisada dentro do carro, sem saber o que pensar.
Eram nove viaturas, bombeiros, resgate, SAMU, policia… Meu carro
estava trancado, não tinha como sair. Desci do carro e fui até a rua,
me senti muito pequena com meu “problema” diante do cenário que
visualizava. Não dava para pedir para ninguém tirar o carro, eram
viaturas e carros enormes dos bombeiros.
Sim, o acidente era grave. A escavadeira havia colaborado com seu peso
para que uma parede de terra desmoronasse sobre um operário. A
construção estava em profundo silêncio, apenas gritos dos socorristas
e bombeiros com instruções de salvamento.
Oramos.
Fomos à rua prestar solidariedade e ajuda. ÁGUA, nossos guerreiros do
asfalto queriam água. Faziam fila em nossa porta lutando contra o
calor desértico que nos assolava as 14:00.
A rua foi fechada, homens entravam e saíam sujos de terra,
desolados… ” muito difícil” diziam eles.
Em meio a toda aquela confusão, ouço uma voz conhecida, É a Dra. G.,
pergunto. sim, respondem, ela está lá embaixo dos escombros tentando
animar a vítima enquanto tentamos removê-los. A Sra. a conhece? Sim,
ela é médica do meu pai (no interior) e de minha sogra (na capital). E
nas ” horas vagas” socorrista do SAMU… Brilhante mulher, incansável
no salvamento.
Nenhuma TV noticiou a tragédia de ontem, nem o aplauso dos operários
aos bombeiros, nem o corpo sem vida saído dos escombros.