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Projeto Jovem Solidário

Paula Ayub, psicóloga, terapeuta de família e diretora do Centro de Convivência Movimento
Helena Maffei Cruz, psicóloga, mestre em psicologia clínica, terapeuta familiar, diretora do Instituto Noos e coordenadora do Noos São Paulo.
A ideia de organizar um grupo de jovens para conversar com seus pares sobre temas diversos nasceu no ano de 2000, em Mantova, (região da Lombardia) Itália.
Nas escolas com programas de inclusão e instituições para pessoas com deficiência intelectual e – ou TEA (transtorno do espectro autista), o recurso humano utilizado era de Escoteiros Mirins. Esses jovens, além de auxiliarem durante as aulas nas lições e atividades de inclusão, caminhavam pela cidade realizando um trabalho semelhante ao que na Argentina e Brasil chamávamos de Amigo Qualificado na década de 80, atravessando ruas, encaminhando os jovens com alguma dificuldade às suas casas, levando para passeios curtos. A importância do amigo qualificado que nos traz a bibliografia da época é seu caráter amistoso e simétrico. 

No entanto, o caráter informal do AQ, aos olhos de especialistas, não teria o controle que julgavam necessário na contenção do paciente, motivando mudanças na qualificação profissional e estabelecendo uma relação de limites e intervenção, fazendo nascer o Acompanhante terapêutico (Ayub, P., 1996)1. Atualmente, eu, Paula, oferecendo um atendimento que se transforma em acompanhamento longitudinal de crianças e jovens com TEA, percebo que ao chegarem na adolescência, intervenções relativas a questões relevantes como vocabulário utilizado, atividades de lazer, paqueras, namoro, atitudes em festas, acabam não sendo pertinentes vindas de um adulto. Um modelo de atuação, no “tamanho real”, significando vindo de um jovem, de um par, parecia ter mais sentido para o ouvinte.
Eu, Paula, enquanto acompanhando jovens que, por qualquer razão possam se sentir em desvantagem social, entendo a importância do discurso do jovem para o jovem. A força do igual que facilita o modelo e aproxima experiências. Em um mundo tecnológico, onde o segundo nas redes sociais pode crucificar um adolescente, o apoio de um jovem meio semestre mais velho, pode resgatar o tempo onde o acolhimento e a conversa fazem toda diferença.

Mensagem / emoção - celular - pensamento - ação podendo ser transformada
Eu, Helena, como parte da equipe de terapeutas familiares atuando na clinica social do Instituto Noos SP, tenho experimentado o poder transformador das denominadas Rodas de Conversa – grupos de até 12 pais e mães que buscam terapia familiar podem frequentar, enquanto esperam ser atendidos, durante ou depois da terapia. Essas Rodas de Conversa agrupam os participantes pelos temas predominantes em sua busca por terapia, como crianças com dificuldades escolares, adolescentes e a semelhança dos problemas vividos de diferentes maneiras pelos significados que diferentes pessoas atribuem a eles, amplia o repertório de possibilidades de superação dos participantes. Focadas nas Práticas Colaborativas, que valorizam vozes de pessoas da comunidade, além da voz do profissional, saindo este do lugar de especialista para um menos hierárquico, repensando recursos que possam ser efetivos, propomos a formação de um grupo de jovens comuns, preferencialmente do ensino médio (pressupondo a variedade de experiências de vida já adquiridas), para conversar com jovens que tenham questões de desenvolvimento social em suas vidas. Por questões de desenvolvimento social entendemos qualquer tipo de sensação de desvantagem que o jovem possa sentir em relação ao seu próprio grupo. Prosseguindo, o grupo não fará depoimentos pessoais, não é objetivo do projeto que os jovens relatem suas experiências, mas que possam trocar com seus pares as possibilidades de ação que sua geração encontra dentro dos contextos pelos quais circulam, facilitando a identificação e as ressonâncias que possam surgir durante as conversas. Os grupos serão monitorados por profissionais qualificados, antes, durante e depois, oferecendo suporte e apoio aos envolvidos. A participação nesses grupos, tanto dos jovens que estamos nomeando como jovens solidários, como daqueles que estão passando por dificuldades relacionais deverá ser consentida pelos pais. Já convidamos alguns jovens que se interessaram pelo projeto e tivemos uma reunião com eles e seus pais. Inicialmente pretendemos oferecer dois grupos, um feminino e outro masculino, cada um com dois jovens solidários e no máximo quatro jovens participantes, pois algumas das dificuldades dos jovens podem estar relacionadas com a relação com o outro sexo. NO decorrer do processo podemos introduzir a questão do grupo ser misto para ouvir a opinião dos próprios jovens. Os encontros ocorrerão mensalmente com uma duração de no máximo duas horas. Propomos um máximo de 4 encontros por semestre, totalizando oito encontros no ano. Os jovens conversarão sobre os temas escolhidos e, assistidos ou, como previamente combinado, ao final do encontro, farão um resumo da conversa. Os jovens encaminhados por escolas ou colegas para o grupo, poderão se inscrever pelo telefone do Instituto Noos: 3812-8985 ou pelo e-mail [email protected].